creepypastas - lendas da internet

Resenha Creepypastas

 Creepypastas, 223 páginas. Manaus: Editora Lendari, 2018.

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Orelha do livro: Os fóruns web estão repletos de histórias sobre casos misteriosos, investigações policiais não resolvidas, fotos sem explicação, descrições de rituais e manifestações demoníacas, versões bizarras e não oficiais de jogos eletrônicos, relatos de episódios macabros de desenhos infantis.

São narrativas virais e anônimas espalhadas nos recônditos mais obscuros da internet, sem que se possa rastrear seus verdadeiros autores. Ou sua veracidade. Acabaram conhecidas como creepypastas - algo como um copypaste (de copiar e colar) de situações assustadoras.

Mas e se as lendas mais famosas da Internet não forem boatos? Nesta antologia, reunimos escritores para darem suas próprias e originais versões das creepypastas mais perturbadoras de todos os tempos. Do submundo do Reddit diretamente para sua leitura de cabeceira.

Autores: Alfredo Alvarenga, Ana S. Varella, André Comanche, Andrei Simões, Bruno Godoi, Cacau Correa, Cláudia Lemes, Dante Saboia, Douglas Lobo, Gabriel Mayer, Glau Kemp, Graciele Ruiz, Gustavo Lopes, Igor Chacon, J. M. Menez, Karol Melo, Kelly Amorim, L. A. Tecau, Leonardo Duprates, Letícia P. S., Mário Bentes, Mayron Damasceno, Patrícia Vahl, Pedro Righetti, P. H. Ludwig, Pris Magalhães, Rafael Becker, Raquel Pagno, Renata Maggessi, Rodrigo Ortiz Vinholo e Tyanne Maia.

A antologia foi organizada pela autora Glau Kemp.

Resenha: Primeiramente devo tecer algumas considerações sobre a capa: de Marina Ávila (criadora da Editora Wish) sobre uma ilustração de João Henrique de Jesus Gomes (que também ilustrou a capa da revista Táquion de número quatro, onde publiquei Olhos que não veem, passado que não existe) capta com precisão a atmosfera geral da coleção de contos e além de chamativa é linda, de um jeito dark, óbvio. Coloco o primeiro período dos melhores contos e minhas impressões a seguir:

O RUÍDO NAS TREVAS, por Alfredo Alvarenga Mesmo aqui, trancafiado nessa masmorra para loucos, em meio a esse turbilhão de vozes desesperadas em perpétuos lamentos e urros insanos, ainda posso ouvir aquela antimelodia infernal e insidiosa, aquele lamento aterrador, aquele ruído pérfido que enche o ar à minha volta e se embrenha profundamente em meu cérebro como uma lâmina, consumindo minha alma e me arrastando cada vez mais para o encontro de um mal avassalador e terrível do qual eu jamais conseguiria escapar. O intervalo longo e recheado de adjetivos desse conto não deixa dúvidas: se trata de um pastiche de H. P. Lovecraft. Para quem gosta é um prato cheio, um conto de horror cósmico envolvendo as ondas curtas de rádio. O conto faz parte também da antologia Contos Lendários Reunidos – O melhor de 2018 – 2019.

MORTE EM 140 CARACTERES, por André Comanche M@Deputado_Firmino: Meu nome é Samuel. Larguei a faculdade de TI na metade. Quem chegou agora pode nem saber que o X se chamava Twitter antes e em seu início só suportava postagens, chamados tuítes, de 140 caracteres, por isso esse título. Aqui temos um conto de terror clássico atualizado tecnologicamente para os dias atuais. O conto também faz parte da antologia Contos Lendários Reunidos – O melhor de 2018 – 2019.

MORTA, por Bruno Godoi 13:17. Esse conto me pegou por minha admiração pelo universo de Robert W. Chambers, o criador de O Rei Amarelo, que serviu de inspiração para Howard Lovecraft, só que considero melhor do que este, pela sua elegância e fina ironia. O conto faz parte também da antologia Contos Lendários Reunidos – O melhor de 2018 – 2019.

O VALSISTA, por Cacau Correa Não parecia ser o melhor momento para uma viagem à praia, mas como de costume, eu não iria ao litoral a passeio. Uma boa creepypasta, com todos elementos de um pesadelo. A paisagem da divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul é um personagem sinistro na trama.

NOVO RESIDENTE, por Cláudia Lemes Rio Pequeno, 1962. Instituto Laverne. Cláudia Lemes demonstra maestria na arte do conto, vamos tomando ciência da situação terrível do Sr. Vieira junto com ele, de forma perturbadora e angustiante. Se embrulha o estômago é uma boa creepypasta, e aqui esse terror nauseante é encontrado em abundância.

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A MARCA DE NABU, por Gabriel Mayer Quem acessasse o site filhosdaescuridao.com.br iria encontrar postagens antigas, com fotos de lugares abandonados e de supostos alienígenas e fantasmas de crianças. Creepypasta muito bem escrita, claramente inspirada em Robert W. Chambers, o criador de O Rei Amarelo, com até mesmo uma citação àCarcosa e seus sóis negros. No livro de Chambers a leitura do segundo ato da peça de mesmo nome do livro conduzia à loucura, aqui temos um arquivo digital. O conto se estrutura como uma investigação digital, onde vamos pegando pistas em arquivos de computador aleatórios, é muito interessante e prende a atenção até o ponto final.

GIFT DAY, por Glau Kemp O pé para fora do colchão gela no ar frio às duas da madrugada enquanto o silêncio da casa é pontuado pelos barulhos da noite. Creepypasta terrivelmente perturbadora, o conto da organizadora da antologia é muito competente em criar tensão e suspense até a última linha. Uma curiosidade: participei da antologia DemontaleAs Matadoras do Submundo (Arwen, 2016), onde dividi as páginas com essa autora.

MENSAGEM AO DEUS DO PROFUNDO, por Igor Chacon Bruno conseguiu finalmente montar aquele novo computador. Uma boa história de terror. O conto faz parte da antologia Contos Lendários Reunidos – O melhor de 2018 – 2019.

BOA NOITE, BABAMOON, por J. M. Menez As três horas da madrugada, os relógios param. O texto de J. M. Menez evolui bastante desde esse texto, que já tem uns anos, ainda sim temos uma história de terror bem escrita.

A CHORONA, por Karol Melo Me lembro como se fosse ontem. A história segue o padrão creepypasta, surpreende por um twist no último parágrafo. Se estivesse em uma antologia de terror, seria um dos melhores da antologia, mas como está inserida em uma antologia de horror, perde um pouco de sua potência.

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A PARTEIRA, por Kelly Amorim Erick acordou de súbito e percebeu que ainda faltava muito para clarear o dia. Em tempos de A Substância, esse texto é uma pérola que a Lendari devia até mesmo colocar como carro chefe em uma antologia temática de Body Horror. Lendo eu imaginei aquele personagem escroto vivido pelo Dennis Quaid no filme de Demy Moore na pele do infeliz Erick, protagonista do conto. O conto faz parte da antologia Contos Lendários Reunidos – O melhor de 2018 – 2019.

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A UMBRA, por Mário Bentes Meu relógio digital Casio marcava 00:35 AM. Uma história que começa bem mais leve do que os outros contos da antologia, com um ar bastante nostálgico, mas nem por isso menos terrível em seu final.

O APANHADOR DE ALMAS, por Mayron Damasceno Armando via o corpo de seu amado trepidar como se sacudido por uma força invisível. Os contos que mais me pegaram nessa temática das creepypastas foram os da criatura The Rake, e esse é um critério de gosto puramente pessoal. Dito isso, o conto é muito bom em criar uma mitologia sinistra para a criatura, e um de meus preferidos aqui, ao lado d’A Parteira.

OHLEPSE, por Patrícia Vahl Cheguei à casa da minha amiga às 22h. Essa antologia poderia começar com uma citação de Patrick: E todo mundo morreu!Acabou. Se você conhece o meme, foi legal encontrar um conto onde há uma final girl.

VOCÊ JÁ VIU ESTE HOMEM, por Pedro Riguetti Os rabiscos de crianças de oito anos nunca poderiam ser considerados obras de arte, mas Alice tratava cada desenho de seus alunos como um Pollock ou Basquiat. Uma excelente creepypasta muito bem elaborada onde as peças do quebra-cabeça vão se montando pouco a pouco. Ler essa história é uma experiência em si mesma, pois conforme vamos tendo noção do terreno em que estamos pisando, a sensação é perfeita.

O HOMEM-PÁSSARO 1765, por Rafael Becker Thomas estava sentado na beirada da cama. Uma ideia muito bem desenvolvida dentro do conto, só não é perfeito aqui deixo um aviso de spoiler — devido a não ficar claro o que acontece no final.

HIGHWAY TO HELL, por Raquel Pagno Claus voltara aos Estados Unidos depois de 20 anos, tornando-se detetive particular, trabalho bem remunerado e de certo prestígio. Gostei desse conto bem rock’n’roll, mas fiquei com a impressão de que se encaixa melhor como um conto de fantasmas.

SETE ALÉM, por Raquel Pagno Elias era fascinado por câmeras antigas. O primeiro contato com Setealém a gente nunca esquece. Setealém é uma creepypasta por excelência e aqui temos uma viagem de pesadelo para essa dimensão sombria.

A VOZ DA FLORESTA, por Rodrigo Ortiz Vinholo Era uma vez uma floresta, e era uma vez um homem que podia ouvir a voz da floresta. Uma lenda construída com elementos folclóricos que nos remete à fábulas (como a do Green Man) ou até mesmo uma história de alguma religião pagã.

CHIARA, por Tyanne Maia Tudo aconteceu há um ano e só escrevo porque não desejo a mais ninguém o que ocorreu com minha pequena mel. Aqui a organizadora da antologia Simulacro & Simulação: histórias sobre falhas na realidade dá sua contribuição para a mitologia sombria construída nessa coletânea. 

The Rake
A Criatura 'The Rake'





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