Resenha - Sonhos Lúcidos





O
livro Sonhos Lúcidos foi lançado no dia 19 de outubro de 2013, durante o Evento Livros em Pauta, na Universidade Estácio, campus Jabaquara. A antologia de contos fantásticos da Andross Editora contou com a participação de Chico Anes, autor de O Sonho de Eva lançado pela editora Novo Conceito, e As Duas Vidas e Meia de Demian Liber (independente), Laura Elizia Haubert, autora de Calisto, Sohuen editados pela Novo Século,  Ode a Nossas Vidas Infames, pela Multifoco, Sempre o Mesmo Céu, Sempre o Mesmo Azul, pela Editora Patuá; Suzy M. Hekamiah, autora de Código dos Mares: Os Contos do Tempo, pela Editora Literata, e O Pianista, Espectra; além de dezenas de outros autores.

A antologia tem basicamente o intuito de divulgação de novos autores. Organizada por Alex Mir a antologia tinha como foco literatura fantástica. Nesse escopo, há 13 autores que estreiam nas páginas desta coletânea da Andross Editora: Alice Rodrigues, Ana F. Cruchello, Antonio Martins Júnior, Carlos Moffatt, autor de Operação Black Hole e Cobaias de Lázaro, Caroline Evans, Garibaldi S. Júnior, Gui Moretti, Jony X, Kleberson Arcanjo, Marcelo Fernandes, Ricardo R. Gitti, Vivi Trichês, Vivian Pitança.

Apesar da temática da antologia, poucos contos seguem na linha proposta pelo organizador. Com a temática sonhos lúcidos há o conto "Lucidez?", da gaúcha Lara Luft, onde o coma é ponto de partida para uma viagem entre o desejo e a responsabilidade. "O Ponto de Encontro", conto de estréia de Vivi Trichês, lembra o enredo do filme de Christopher Nolan "A Origem" (baseado em uma HQ). "Filhos do Fogo", de Vivian Pitança (Sedução Fatal, Liberdade?) traz o sonho como protagonista de uma história secreta. Em "O Menino e o Ladrão de Almas", Suzy M. Hekamiah (Código dos Mares: Os Contos do Tempo, O Pianista e Do Céu ao Inferno: contos de anjos e demônios) trabalha o conceito de leitor que consome o livro, invertendo os papéis tradicionais de interpretação da história, brincando com esses conceitos. Caio Ranieri em seu conto Doze e Trinta e Quatro filosofa sobre a condição humana. Quanto ao significado do título, o próprio autor explica: 
 

"Está no próprio texto. Imediatamente depois que o corpo de Dan é paralisado, ele é capaz de ver as horas em um relógio. Meia-noite e 34 minutos. Mas o que fez com que eu decidisse por esse título foi o fato de que "doze e trinta e quatro" é sequencial (1 2 3 4), mas a chance de uma (pessoa) perceba isso somente ao ler o título é muito baixa; se eu perguntasse as horas a alguém, e essa pessoa respondesse 12 e 34, eu certamente não perceberia que isso é uma sequência de números consecutivos". 

 
O sonho e o real também se mesclam "Em Vestido de Noiva", de Taiane Gonçalves Dias, considerado um dos melhores contos da antologia. No conto "Antônia e os Vagalumes", Andrea de Oliveira sentencia "os sonhos são cartas para nós mesmos". Já o autor Chico Anes, que trata de sonhos lúcidos em seu livro solo, apresentou na antologia um conto com nuances de romance policial noir em "Drosera Negra", conto que abre a antologia.


Um cruzado esqueleto segurando uma espada flamejante
O Cavaleiro Cinza
Sete são os contos que tratam de um tema muito pisado por escritores em 2012: o fim do mundo. Esses autores ainda estão presos à temática do final dos tempos, nos brindando com taças de veneno para o último gole. Marcelo Fernandes (Guerras Cthulhu) traz os contos mais longos da antologia: "A Nuvem" e "A Viagem". O apocalipse zumbi deste último invade as páginas de Sonhos Lúcidos com uma horda putrefata de zumbis, em uma história tensa para roer as unhas lendo. Seu outro conto "A Nuvem", trás um apocalipse alienígena trazido por forças do mal ocultas na vastidão do cosmo. "Nunca mais", um conto muito interessante, da estreante Caroline Evans, onde uma protagonista vacilante luta em um cenário pós apocalíptico dominado por monstros. Outro apocalipse monstro é trazido por Gui Moretti, no conto "Um Fim para um Recomeço", onde uma blitzkrieg das trevas resolve botar um ponto final nesta história de raça humana. Eliane Verica (Histórias para Ler no Cemitério) acaba com tudo, sem mais nem porquê, quando o insólito cubo negro que dá nome ao conto se materializa em uma rua qualquer, traz consigo o fim do Universo. Em "O Último", Carlos Moffatt (Cobaias de Lázaro) traz um apocalipse cósmico trazido por um buraco negro, nesse futuro imaginário toda a esperança se foi. Outro apocalipse é o de Mauricio R B Campos (O Rei Amarelo em Quadrinhos, Incompatível, Morte em Boulogne, Guerras Cthulhu, Steampunk - Contos do Mundo do Vapor) "O Cavaleiro Cinza". Neste conto diversas teorias da conspiração atualmente veiculadas na web se encontram gerando uma história que surpreende em um final diferente do imaginado pelo leitor. Não é sonho lúcido, mas uma visão típica dos profetas.

Um ogro com um machado e uma elfo soltando um feitiço
No melhor estilo Espada e Feitiçaria temos os contos ucrônicos que fazem juz à bela capa da antologia, obra muito inspirada de Telma FrancioneMarcados pelo Sangue, de Cyro Brayner, na qual um general marcado por uma maldição conduz suas tropas para uma épica batalha final. O casal Samuel de Andrade & Aziel Guerriz abrem um portal fantástico para um reino onde dragões e cavaleiros lutam para conseguir a "rumpa" nossa de cada dia no encantador "A Lenda da Floresta". Não saímos da floresta se continuarmos nossa leitura com o terrível "A Fera de Berhnegast", um conto muito bom de Ricardo R. Gitti. Um Quarto para Meia-Noite, de Felix Alba (Dinossauros, Draco,2015) além de ser um digno representante do gênero espada e feitiçaria, é o melhor conto da antologia, por sua capacidade de criar uma ambientação e uma imersão na história como nenhum outro, além do suspense e do mistério segurar o leitor até a última linha. Este texto contém todos os ingredientes necessários para o sucesso de um bom conto clássico, no melhor estilo Horácio Quiroga.

Alex Mir


A fantasia continua na ucronia "A Bruxa de Salem", onde Ana Flávia Cruchello traz uma história no melhor estilo Grimm. Se um conto correspondesse à capa do livro, com certeza seria o conto de Lara Luft "A Represália de meu Monastério", que ilustra a paixão de uma mulher que conta com a ajuda de um fiel dragão.
Laura Elizia Haubert (Ode a Nossas Vidas Infames e Sempre o Mesmo Céu, Sempre o Mesmo Azul) traz a crônica folclórica e ucrônica "Despertar". A jovem Alice Rodrigues surpreende com uma fantástica aventura de seres voadores em "Irmãos Alados". Uma releitura da lenda amazônica "Boiuna" de Wésley D. D. Menezes (Obrigado por Existir e Em um Reino Distante: Uma Releitura de Cinderela) nos mantém no campo folclórico.

O livro ganha ares espiritualistas graças aos contos Viva! de Carlos Patrício e Amado Imortal, de Andréa Bertoldo (Alexis e A Caixa de Pandora). Neste último o evento de lançamento do livro Livros em Pauta se torna o cenário das cenas finais do conto.

A Sombra, de Samuel de Andrade, dá ares de realismo fantástico à antologia, que continua com "A Virgem das Acácias Negras", um perturbador conto de Cleide Vanderley (O Anjo Escarlate).

Alex Mir (Seres das Trevas: histórias de terror e Orixás) apresenta um conto perturbador chamado "Sara". Nele não há monstros do espaço nem zumbis do inferno, o terror está no mal que se esconde do outro lado do espelho, espreitando à nossa volta.



 
"Pesadelo no Hotel", de Ben Oliveira (Escrita Maldita, Pesadelos no Hotel e O Último dos Príncipes), "Mundo de Areia" de Kleberson Arcanjo, "Brincando de Vingança" de Thais Pampado, "A Última Porta", de Antonio Martins Júnior, "Monstro", de - Davi Paiva (O Cavaleiro Negro) e "Um Trago Lúgubre e um Gole de Desesperança..." de Jony X são contos de terror para se recitar à volta do fogo. O conto de Thais Pampado é o representante das bruxas na antologia, juntamente com "Bruxas de Salem".
Ainda seguindo a temática do terror, Sonhos Lúcidos conta com "O Diabo na Escada", de Robert Trebor, uma versão Stairway to Hell da música clássica do Led Zeppelin.

"Olhos no Escuro", de Garibaldi S. Júnior, é um bom conto sobre um garoto que cai em um buraco cheio de criaturas estranhas.

NazistasDois contos tem como tema o nazismo, trabalhando o tema de maneiras completamente opostas. Vejamos na ordem cronológica, "Uma chance para Hitler" de Aislan Coulter (Twittando com o Vampiro), se passa em 1943/1944 e trabalha um tema muito intrigante e que tem sido objeto de diversos estudos, o misticismo nazi. Neste conto que alia algumas intrigantes teorias da conspiração com um arguto senso de humor, entidades alienígenas interagem com o führer. O conto cria uma ambientação interessante, mas carece de algumas explicações. Cerca de vinte anos depois, na história "Bluschwitz" de William Wagner Westphal (Eu me Ofereço!), a sombra dos tentáculos do Terceiro Reich se estendem para nossas plagas tropicais.



O movimento surrealista têm seus representantes em "Sonhos" de J.R.R.Santos, um digno exemplo de escrita automática de André Breton, O autor é o escritor por trás de Raziel, disponibilizado gratuitamente pela rede mundial de computadores no festival Flupp Pensa (Festa Literária das UPPs (sigla para Unidades de Polícia Pacificadora, as favelas ocupadas pela polícia no Rio de Janeiro), em 2012 "O Elevador dos Sonhos", de Cecília Torres Nogueira, é outro onírico representante do gênero.
"F090", de Vitor Pereira Jr. (autor da série de livros-jogos As Crônicas de Tellus) e "Companhia de Sophia" de Victor Moreno, são os representantes de ficção científica. Este último se passa em 23 de março de 2157, em um futuro opressivo e caótico.
Capa do livro Nas Asas de um Anjo
Por último, mas não menos importante, estão os contos de vampiro.
Michelle S. Rocha já publicou dois livros de maneira independente, Em Busca de um Sonho e Nas Asas de um Anjo. Em "Por Trás dos Olhos Vermelhos" o vampiro Erik é apresentado ao mundo, baseado na música "Behind Blue Eyes" do The Who.

Em um jardim sem luar podemos ler sobre a "Última Noite" de Caroline Policarpo Veloso e sua história vampiresca.


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Atualizado em  09 de março de 2024.





Comentários

  1. Adorei essa antologia e não é só porque tenho um conto publicado nela. Contos de fantasia, ficção científica e terror são ótimos entretenimentos!
    Abraços e parabéns pela resenha!

    http://www.benoliveira.com/

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  2. Opa, só vi a resenha agora.

    Obrigado por citar meu conto aqui.

    Agora, eu vou contar um segredo sobre o conto: ele é a minha tentativa de responder à pergunta “Como seria viver um dia de sua vida como se ele fosse um sonho?” (ou algo assim); daí eu fiquei pensando em como, dentro de um sonho, você (geralmente) não tem nenhum controle sobre suas ações, e deu no que deu.

    Com base nos poucos comentários que eu recebi desse conto, as pessoas estão vendo um pouco mais de profundidade nele do que eu mesmo vi quando escrevi; e eu acho isso incrível.

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