trecho - morte em boulogne

Capa de Morte em Boulogne


[trecho]


A fachada do café Starbecks imitava a fachada do Starbucks, até mesmo o logo era parecido, mas em vez da Melusina11 do logo da cafeteria de Seattle, havia o desenho de uma folha de maconha. Logo abaixo do logo o slogan 1er. Café con temática cannábica del Uruguay.   

Lisandra não teve coragem de entrar imediatamente. Olhou para os dois lados da rua deserta. O que estava fazendo ali?, se perguntava. Teve medo. Quem seria esse Sírio? O que um tipo como seu pai poderia estar querendo com alguém que tinha um café de cannabis? Ela não conseguiu imaginar nenhuma alternativa que não fosse ilegal, apesar de todo o bom astral de Mujica e a liberação da maconha no Uruguai, aquilo significava o que para os argentinos? Nada. Na Argentina continuava a proibição do cultivo, distribuição e venda de maconha. Então, o que Xosé poderia ter com aquele pessoal? 

Só descobriria entrando ali. Philippe com certeza não aprovaria. E por isso não ficou sabendo. Na verdade, ninguém sabia que ela havia deixado a Argentina e seguido para o Uruguai. 

Entrou hesitante no Café. Precisava encontrar Elizabeth para recuperar sua vida e, se tivesse que ser se tornando cúmplice de seu pai em alguma coisa, que fosse. Sua irmã precisava pagar.  

O interior da loja era decorado com quadros coloridos e as mesas eram feitas de ripas de caixotes de feira desmontados e envernizados. Havia vasos de todos os tamanhos com pés de maconha adornando a loja, em grande quantidade. 

Ela se sentou em uma mesa e pensou que um café seria bom, talvez até um bolinho. Havia um casal em uma mesa fumando e comendo e um jovem com feições do Oriente Médio do outro lado do balcão. Devia ter uns vinte, vinte e um anos. Quando ela tirou os óculos escuros e os colocou sobre a mesa e puxou o capuz, revelando seu rosto, o rapaz se virou de repente e desapareceu através de uma cortina de madeira que separava a parte interna da loja. Ela os ouviu dizendo algo em árabe, então dois homens vieram do interior da loja acompanhando-o. Um deles era um homem forte e moreno, outro um senhor calvo e obeso, ambos de feições árabes e vestindo paletós cinza. 

Eles se aproximaram e o mais forte mostrou o cabo de uma pistola cromada presa na cintura. 

— Eu procuro o Sírio — ela se limitou a dizer, intimidada. 

O mais velho se aproximou e em um movimento violento a pegou pelos cabelos e puxou sua cabeça para trás enquanto com a outra mão segurou a cabeça de Lisandra pelo queixo. Ele cuspiu em sua face e disse alguma coisa em árabe como quem diz uma jura de maldição. 

— Aqui não — o outro pediu. 

O mais velho se virou para ele e num átimo Lisandra se vê sendo arrastada para fora da loja como um animal capturado para o abate. Ela vê o casal assustado no outro canto da loja e grita por socorro, mas o homem forte envolveu seu pescoço num movimento brusco e tudo ficou escuro. 

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