O velho olhou o mar e seu coração se encheu de melancolia. As vagas lhe separaram do mundo esses anos todos. Sua família sempre esteve lá, além dos colossos de correntes marítimas que se digladiavam dia e noite em épicas batalhas, invisíveis aos olhos humanos, mas que seduziram anjos e outras criaturas no desenrolar das eras. Os elementais deviam fazer seu trabalho, fazer a água circular por todo o globo, e, enquanto uns traziam o calor das águas quentes e a esperança do florescer dos trópicos, outros, além do véu da nossa vida ordinária, buscavam levar o frio cortante para o coração de todas as criaturas vivas, trazendo as águas do âmago das trevas eternas abaixo dos colossos de gelo imemoriais dos polos águas cortantes para contaminar os mares.
O velho olhou para o céu. As nuvens acinzentadas corriam para o horizonte, como se impulsionadas por cavalos invisíveis cujo trote ribombava pelos trezentos e sessenta graus daquele imenso tablado que se convencionou chamar de Atlântico. O mesmo céu que protegia sua família, longe das nuvens cinzentas.
O velho olhou para os contêineres atrás de si e para a proa que cortava as ondas à frente. O vento uivou por alguma fenda e ele fechou os olhos por um momento. A esperança de voltar a revê-los o fez abrir os olhos. Alguém chamou seu nome atrás de si.
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