Joyce chegou em casa por volta das três horas, abriu o portão com a facilidade de sempre e subiu a escada até sua quitinete no primeiro andar. Pegou o molho de chaves e abriu a porta de sua casa. Na porta o número 2 do número 25 pendia meio torto. Ela anotou mentalmente que precisava consertar isso. A porta rangeu e ela entrou. Foi ao banheiro. Pensou nos acontecimentos da noite anterior, mas se arrependeu. Não deveria pensar nisso agora.
Punta del Este, a Las Vegas da América do Sul. María lhe levava pelo braço. A beleza da noite, as estátuas e o brilho opaco de uma lâmpada de rua. Através do vidro leitoso dos biombos da sala de computadores do hotel ela divisou as coxas de María. Coxas de leite. Estou na terra do leite e mel, pensou, enquanto se ocupava de enrolar uma mecha de seu cabelo na ponta dos dedos. A deliciosa falta de familiaridade dos ambientes estrangeiros. O som da língua que ela não dominava preenchia os espaços e a língua portuguesa só vagava em sua mente. Imersão total num ambiente totalmente latino-americano. Mas brasileiro não é latino-americano? Hispano-americano é a definição que buscava. Pegou um comprimido na bolsa e colocou debaixo da língua, sentindo o sabor ocre.
Uma noite para chamar de sua. Com as bênçãos de Nix. Um corpo. Um céu estrelado. As estrelas no quepe do policial. Um som, uma textura. E então o retorno das coxas de María, o leite e o mel. Mas algo não estava certo. Um jogo de dados. A luz.
Joyce se levantou do vaso sanitário e se lavou. Tirou a roupa e desfrutou de uma chuveirada demorada. Não queria mais se preocupar com o tempo. Ficou por muito tempo sentindo a água fluir por seu corpo, então fechou a torneira e passou um óleo perfumado no corpo todo. Secou-se, se vestiu, e foi até o carro. Subiu com a pesada mala cheia de dinheiro e voltou para pegar a sua mochila de roupas.
Ela ainda sentia o cheiro da uruguaia, embora fosse apenas uma lembrança. Uma lembrança em forma de cubo de gelo, que sua mente consciente deixava sob o sol. Subiu as escadas e foi até o quarto. Deitou-se na cama.
Dois dados. Seis. Seis. Doze. Perplexidade.
Joyce não quer pensar nisso, nem no significado de tudo isso. Não agora. Ela abre a gaveta do criado mudo e pega o revólver. Sente o frio metálico na têmpora. Frio como o gelo que o sol liquefez. O ser...
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King Edgar Hotel entre as Melhores Histórias |
Gêneros Literários: Horror Cósmico |
Incompatível: Romance |
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